domingo, 21 de fevereiro de 2010

Teoria da conspiração II ou Teoria da Preguiça

Texto e imagens vindos do blog da minha amiga Marcella Santos, o Lira Santista



Numa dessas conversas filosóficas com meu amigo e companheiro de aventuras - Bruno - confabulávamos e especulávamos uma possível causa para a inércia da humanidade (do ponto de vista da transformação de valores e da competência do homem comum em criar sua arte e cultura e não apenas consumí-la).

Pois bem, depois de uma rápida retrospectiva da história da humanidade chegamos à conclusão de que a preguiça move esse sitema que criamos.

Vai soar como um paradoxo, afinal andamos trabalhando, com esforço, em nossos empregos em busca da perfeição que nos levará ao paraíso de uma sociedade com seus problemas solucionados.
Que seja só uma demência momentânea da minha parte, que seja! Ao menos compartilho com vocês um pouco das angústias. Talvez seus possíveis argumentos contrários à essa teoria me convençam e me tragam um pouco de paz.

Desde sempre estamos imbuídos na criação de novos mecanismos que facilitem nossa vida. Desde a criação da roda até a do controle remoto, tudo é voltado para evitar o esforço.

Lembro-me de que no ano passado estive no terminal de ônibus de Santos com um amigo e ele comentou que as pessoas tinham tudo mastigado. A cada 2 metros você encontra uma placa informando "Plataforma A"; "Plataforma B", anda-se mais alguns passos e a placa diz "Agora você está na plataforma C"; "Você está aqui" (e o mapinha com um ponto vermelho e uma seta apontando para ele).

Hoje quando se pensa em invenção pensa-se em criar algo que facilite nossos trabalhos. Temos a máquina de lavar roupa, batedeiras, espremedores, furadeiras, lixadeiras, vassouras elétricas, hidráulicas… E a coisa vai ficando surreal: máquina de lavar louça, máquinas de pegar bichinho de pelúcia, apontadores automáticos de lápis, escovas de dentes elétricas (!!!).

Há algo mais bizarro que a bicicleta ergométrica?! Depois ainda inventaram as TVs com paisagens que se coloca em frente da bicicleta simulando lugares pelos quais você passa sem precisar passar. Aliás, o que dizer daquele aparelho de contrair os músculos? Acho que é "Total Shape" o nome, consiste em levar uns choques na barriga para não ter de fazer abdominal. Até para exercitar sentimos preguiça.

Nem preciso me alongar muito nos exemplos, acho que já deu para perceber a que ponto chegamos. Levamos muito a sério o conceito de "ferramenta".

Aí é claro, tem sempre alguém inventado algo novo nesse sentido, de que as pessoas realmente não precisarão, apesar de não se darem conta disso. Por trás de tudo isso as máquinas, que são todas essas instituições, nos empurram a idéia de que precisamos dessas coisas, e, quando já as adquirimos ficam defasadas e precisamos de coisas novas ou mais modernas.

Nunca é suficiente. Aí o cara, vamos imaginar um designer de aparelhos de barbear, termina suas 8 horas diárias e volta para casa exausto. Desenhar, esculpir, escrever, compor, estudar, são coisas que ele não estará disposto a fazer. Então ele senta-se no sofá e liga sua TV que é o lugar onde a arte já está pronta e com o selo "tipo exportação", nessa ele pode confiar.

O que pensamos, no final das contas é que a nossa preguiça nos fez chegar aqui. Aqui no mundo das escadas rolantes, pilotos-automáticos, ligações telefônicas acionadas por comando de voz.





Tudo o que realmente importava ficou no meio do caminho. O impulso que nos levou à criação da roda foi nossa salvação e será nosso declínio. Pois, aí onde reside as propagandas que nos impelem a adquirir essas ferramentas supérfluas reside também a escassez da matéria prima com que se produz as maravilhas do mundo moderno. Aí onde reside o desejo de chegar a casa e ter apenas de apertar alguns botões para que tudo funcione, também aí reside a chaga do parasitismo que nos presenteia com a obesidade, derrame, angina e a falta de
fertilidade cerebral que nos impede de conjugar o verbo "produzir" antes do "consumir".

(esse texto foi escrito por mim e fertilizado na minha cabeça pelas minhas conversas com amigos, pelos livros, pela observação, pela minha tendência ao pessimismo e pelo Bruno principalmente - excetuando-se a parte da propaganda, uma vez que ele é publicitário.




...Depois do que a Marcella escreveu,não preciso dizer mais nada, não é mesmo?

Um comentário:

lirasantista disse...

Puxa! qto tempo esse texto!!! bom vê-lo aqui, sendo divulgado! Obrigada!! :)